Monique Malcher, doutoranda do PPGICH, é vencedora do Prêmio Jabuti
Monique Malcher vence o Prêmio Jabuti
A colagista, artista visual, escritora e pesquisadora do NAVI, Monique Malcher, venceu o Prêmio Jabuti deste ano na categoria contos por Flor de Gume (Editora Jandaíra). O prêmio contemplou obras que foram publicadas em 2020.
Após a notícia, a autora publicou em suas redes sociais:
“Mulher do fim do mundo eu sou e vou até o fim cantar. Me deixe cantar até o fim, eu vou cantar até o fim. Antes do meu nome ser retirado daquele envelope roxo ontem… ouvia a voz de Elza Soares enquanto chorava agarrada ao meu livro. Eu vou escrever até o fim, cantava na licença poética. Nunca senti o que fisicamente se inscreveu. Minha pele repuxava de meu rosto, como se o osso fosse ser minha nova casa, e muitas vezes foi. Meu rio foi o tutano das coisas, as margens. Só que estive sempre desgarrada no meião das águas, onde muitos não querem estar, onde o afogamento e o banco de areia mandam. Meus pés de aceroleira me levaram de cada dor que me rasgou até esse desmaio que me trouxe de volta para um mundo em que meu nome é retirado do envelope roxo.
Acordo hoje com a mão rasgada de água e os olhos uma represa ainda. Brado com a língua da serpente que sou: pelas mulheres que aguentam toda a merda desse mundo, que se achavam incapazes, para as que vieram antes, para as que virão depois que eu virar pó. Para o norte que existe e é lindo. Para Santarém. Para o rio escuro que faz o magma do meu coração. Para os orixás que dançam comigo, bebo e como de seu manjar. Sou filha da rua e meu território vai ser sempre onde meu pé firmar como vela. Eu vou escrever até o fim, porque estou de passagem, mas a palavra é eterna.
No dia 25 de novembro de 2021 Monique Malcher neta de mulheres ribeirinhas, artistas, cabanas, indígenas do interior do oeste paraense, de uma cidade chamada Santarém, filha de professora… ganhou um dos maiores prêmios da literatura brasileira. E isso ninguém vai apagar.
Obrigada mãe por me dizer que escrever ia me tirar de qualquer inferno. E eu acredito ainda nisso enquanto sinto essa lágrima pesada cair de meu rosto, a argamassa da felicidade. (Monique Malcher, 2021)”
Monique faz uma tese no PPGICH intitulada “Subversão nos quadrinhos: Os tentáculos da cidade de São Paulo e as mulheres na década de 20 nas páginas de Sem Dó”, orientada por Carmen Rial e Caroline Almeida.
O livro é composto por 37 contos que abordam a vida de mulheres de diferentes gerações, tendo como cenário paisagens de Santarém- cidade natal da autora.
Flor de Gume marca a estreia de Monique nesse gênero literário, publicação feita de forma independente por financiamento coletivo.
Veja a lista completa em com as pessoas ganhadoras: LINK