Gilberto Velho
Gilberto Velho
A série “Antropólogos que passaram pela ilha” conta com conferências de grandes nomes da antropologia brasileira e mundial que passaram pela Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis).
Esta edição apresenta uma Aula Inaugural do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas (PPGICH) e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) com Gilberto Velho, em 2004. Nela, o antropólogo conta a famosa anedota sobre a relação pesquisador/pesquisado que está transcrita abaixo:
Não se esqueçam que os cientistas sociais podem ser muito ser muito tediosos também. Podem cansar muito, podem aborrecer muito. Existem pessoas que (desculpe uma certa irreverência) que são universalmente chatas. Existe um episódio, que felizmente vocês nem conhecem, nem está registrado na história. Mas existem muitos episódios desses. Eu me lembro de um que me marcou muito. De uma antropóloga que foi pesquisar um grupo indígena no interior do país (uma referência bem ampla, né?) e que ela aborreceu tanto os índios, que os índios forjaram uma migração. Disseram: “Adeus, adeus…”. Embarcaram em canoas. Silenciosamente, esconderam-se na curva do rio (Você já ouviu falar nisso, não é? É verdade!). Esconderam-se na curva do rio. As crianças não podiam chorar. Tiveram que segurar a boca. Os velhos não podiam tossir durante horas. A pesquisadora (infelizmente isso eu tenho que dizer: era uma pesquisadora) insistia em querer ir com eles. E eles diziam: “Não! Vamos para a terra sem males, branco não pode ir”.
Bom, então que fique claro para vocês que eu não tenho nenhuma visão ufanista nem dos antropólogos, nem dos cientistas sociais. E certamente todos nós somos capazes de cansar e tediar pesquisados, e forçar, mesmo que metaforicamente, migrações.